Adorei a frase do Divã, o filme: Se tive problemas na vida, nao foi por falta de felicidade!"
Eu sei é que ao longo dessas décadas já vivi tantas vidas e parece que estive parada no mesmo lugar. É verdade isso de vivermos muitas vidas em uma. Hoje estamos cercados por um grupo de pessoas, temos laços e vínculos com elas e são determinantes em nossa vida, às vezes, num piscar de olhos o cenário muda, nada mais resta daquilo e o que era o ar que respirávamos tornou-se poeira em nossa memória. Será que não dá mesmo pra fugir do clichê?
Lembro de uma série de TV onde o personagem principal era um simulador, que poderia ser quem quisesse? Olha que delírio! O fato é que podemos ser quem escolhermos, mas precisamos remover os grilhões! É tão difícil sair da zona de conforto. È tão complicado sair de dentro da prisão do lugar comum. O novo é tão sonhado e na hora de agarrar o prêmio dá vontade de desistir!
Eu confesso que fico mimando e acalentando alguns vícios da minha vida que sei que são um atraso, mas são íntimos e conhecidos velhos. É mais fácil lidar com coisas familiares! Isto é um desacato!
Talvez eu tenha imaginado que seria uma predestinada e que magicamente saberia ler os sinais, que os sinais me indicariam o caminho a seguir e assim eu cumpriria os ítens da receita e o produto estaria ali. Sem surpresas. Como fui lesa.
Tudo foi lento e indefinido e eu deixei a indefinição ser minha marca registrada. Sempre agi com a vida como se as opções não fossem minhas e sim do acaso. Tudo aconteceu e eu apenas embarquei em tempo.
Não fiz muita questão de marcar o território nem de parecer a opção correta, mas não aceito me enquadrar nos modelos de felicidade que estão à minha frente. Acho que resisti tanto a eles que caí num limbo e la ironicamente encontrei os supostamente enquadrados também. Sempre vai haver uma porta que estará fechada. E eu aqui no portal.
Talvez, na verdade, eu quisesse apenas um desses modelos prontos! Talvez eu tivesse medo de falhar, de descobrir que não posso!
Eu sempre imagino o que teria sido de mim se tivesse ficado com a outra opção!
Se eu tivesse me tornado a gorda que tenho tanto medo de ser? Se eu tivesse assumido a feia que tenho tanto medo de ser? Se eu tivesse me tornado a burra que tenho medo de ser.
Está vendo, tudo é definitivo. Estou sendo maniqueísta mesmo. Ou se é gorda( não se está gorda). Ou se é feia ( não está feia) . Ou é burra( não está sendo burra). O definitivo está sempre presente. Tudo parece pra sempre! Pra sempre!
Mas, voltando , se eu tivesse sido a burra , feia , gorda?Será que eu não estaria mais confortável.
Outro dia eu li um crônica da Lia Luft onde ela dizia o quanto é difícil ser "feliz", ironizando sobre o modelo ou rótulo do que todos acreditam ser a felicidade. Ser é difícil. Ser tantas coisas é impossível. Eu sei disso ! E daí? Isso muda alguma coisa dentro de mim e sobre mim? Talvez.
O difícil é ser a bruxa e ao mesmo tempo a gata borralheira!
Tenho muitas amigas e todas diferentes, cada uma em sintonia com uma parte de mim, mas todas acertaram em algum ponto. Há um momento em que o dial sintoniza claramente a que vieram, sem ruídos nem interferências. A música toca.
Eu me sinto como alguém que não está na festa porque quer,mas porque tem que estar. É onde deve estar, mas fico contando os minutos para acabar e poder ir embora e ficar aliviada porque consegui estar lá e fingir que estava ótimo por tempo suficiente e deu tudo certo . Poder contar depois como estava ótimo. Eu consegui enganar os bobos!
Eu detesto e sempre detestei festas convencionais, como formaturas, casamentos , aniversários de crianças, batizados e demais eventos familiares. O que há de errado comigo? Sem falar do Natal ! Só que às vezes me pego gostando pelas beirinhas! Dá pra entender onde foi que a placa começou a deslizar? Eu só sinto a crosta rachando!
Tenho medo, mas topei o desafio!
Eu não tenho medo de perder o juízo. Eu até gostaria de delirar um pouco, eu tenho medo é da minha própria polícia, diuturnamente vigilante e cujas punições são tão mais severas. Não admito minha humanidade e ponto.
Enquanto isso a criança fica lá, dentro de mim, chorando sozinha.
Eu continuo vendo e vivendo tudo enquadrado, remoto controle. Grande ilusão.
Eu sempre costumava pensar, quando me sentia cansada de tudo, que logo eu estaria velhinha e não teria mais que ficar me fazendo desafios ou provando pra torcida do Grêmio que eu posso isso ou aquilo ( entenda-se torcida do Grêmio o meu exército vigilante). É como aquela festa que já falei, logo ela acaba e só é preciso lembrar dos acontecimentos, pintar com uma cor que não seja muito distante da verdade e fazer de conta que foi como tinha que ser.
Eu sempre encurtava fantasiosamente o caminho entre o nascimento e a morte.
Décadas e décadas e a ânsia por viver ou descobrir o significado de tudo, como se tudo tivesse que ser um grande acontecimento , cheio de profundidade..., a ânsia só aumentou. Será que aos noventa vou viver a hecatombe!
Eu adoro temporais, adoro o barulho do vento. Adoro quando o tempo enlouquece!
Eu continuo vendo e revendo tudo enquadrado, remoto controle! Grande ilusão!