quarta-feira, 2 de setembro de 2009

@Quer falar sobre mediocridade?

Não sei a razão pela qual eu senti vontade de começar este post e muito menos se vou ter o mesmo ímpeto para terminá-lo. O tema é a mediocridade, a minha própria mediocridade.
Tudo começou com a primeira vez que identifiquei em mim uma necessidade de aparentar ser o que não sou antes mesmo de dar-me conta de que estava fazendo isto. Eu tinha uns onze ou doze anos e adquiri o hábito de decorar palavras do dicionário e usá-las em meu dia a dia em meio a minhas frases de "menor alienada". Adorava palavras com "b" ou "d" mudo , tipo, indadvertidamente ou substancial, mas a minha grande vedete foi a palavra "medíocre". Hoje lembrei disso sob a água morna do chuveiro.
Após nosso encontro no dicionário pedi ao meu pai que me explicasse. Eu preferia porque ele sempre usava um exemplo e eu associava rápido. Entretanto ele talvez tenha usado um exemplo preconceituoso a ponto de me fazer associar a mediocridade a fraqueza e covardia. Ambos crimes perdoáveis e absolutamente humanos. Mas para mim se tornaram pecados inaceitáveis.

Aos doze anos eu aprendi a fumar sem tragar, escondido , é óbvio. Pegava cigarros da minha mãe, pintava a boca de vermelho e ficava articulando as palavras que escolhera , entre bocas e expressões. Falar "medíocre" na frente do espelho era o máximo. Eu subia no pedestal do meu ego e acusava o mundo enquanto erguia a sobrancelha:

- Medíocre!

Ridículo? Generosidade! Mas não mudei muito de lá para cá. Continuo com fixação em espelhos e amo palavras. Redondas , longas, profundas , rasas, vagas, cheias e vazias. Acho que melhorei um pouco a estética.

A alegria daqueles momentos de pura teatralidade durou até minha mãe descobrir o desaparecimento dos cigarros e paguei o preço por meu espalhafato exibicionista.

Mas hoje, quando começei a pensar sobre minha mediocridade descobri que o conceito que aprendi no dicionário não serve mais. Acho que a mediocridade é uma criação do senso comum. O que é afinal "ser medíocre"? E melhor " e daí"?

Com o meu estilo soda cáustica de ser eu sempre usei o doce, o ácido e o corrosivo para abordar as questões mais elementares. Acredito que isto começou com meu encontro com o dicionário aos onze. Talvez fossem nove. Ali eu começei a comparar o que tinha que ser e o que eu gostaria que fosse. Aí me perdi. Que pena.

Tornei-me cada vez mais insatisfeita com minhas conquistas ou vitórias. Azar o meu.

Acho que identifiquei uma diferença essencial entre o que queremos e o que precisamos fazer. E assim uma diferença essencial entre ser medíocre e escolher ser o que é (medíocre?). Não sei se é uma questão de semântica. Não há mediocridade se alguém é feliz com sua atitude. A mediocridade é o olhar do que confere, do que compara, julga. Eu nunca mais consegui ficar sem comparar. O medíocre é o que se distancia de nosso critérios.

Afinal encontrei o homem médio, procurado pelos operadores de todas as ciências humanas, o homem comum e ponto.
Se a mediocridade é caracterizada pela falta de mérito é necessário estabelecer qual mérito? Qual a medida para o mérito? O esforço, o empenho, o desejo, o sonho?

Fiquei tentando lembrar de algumas pessoas do tipo bege, mas satisfeitas. Conheço algumas pessoas que estão conformes consigo , pelo menos aparentemente e notei que não são exicionistas. Não passam batom e ficam falando na frente do espelho. Provavelmente achem isto um despautério. São beges, comuns, transparentes. E daí?

Ao abordar minha própria mediocridade e meu severo critério de julgamento formatado pelos sucessivos equívocos nas minhas interpretações da vida eu me declaro um ser comum!
Bem vinda ao mundo real!
beijos medíocres
by Linda O'Mahley