Aos doze anos eu aprendi a fumar sem tragar, escondido , é óbvio. Pegava cigarros da minha mãe, pintava a boca de vermelho e ficava articulando as palavras que escolhera , entre bocas e expressões. Falar "medíocre" na frente do espelho era o máximo. Eu subia no pedestal do meu ego e acusava o mundo enquanto erguia a sobrancelha:
- Medíocre!
Ridículo? Generosidade! Mas não mudei muito de lá para cá. Continuo com fixação em espelhos e amo palavras. Redondas , longas, profundas , rasas, vagas, cheias e vazias. Acho que melhorei um pouco a estética.
A alegria daqueles momentos de pura teatralidade durou até minha mãe descobrir o desaparecimento dos cigarros e paguei o preço por meu espalhafato exibicionista.
Mas hoje, quando começei a pensar sobre minha mediocridade descobri que o conceito que aprendi no dicionário não serve mais. Acho que a mediocridade é uma criação do senso comum. O que é afinal "ser medíocre"? E melhor " e daí"?
Com o meu estilo soda cáustica de ser eu sempre usei o doce, o ácido e o corrosivo para abordar as questões mais elementares. Acredito que isto começou com meu encontro com o dicionário aos onze. Talvez fossem nove. Ali eu começei a comparar o que tinha que ser e o que eu gostaria que fosse. Aí me perdi. Que pena.
Tornei-me cada vez mais insatisfeita com minhas conquistas ou vitórias. Azar o meu.
Acho que identifiquei uma diferença essencial entre o que queremos e o que precisamos fazer. E assim uma diferença essencial entre ser medíocre e escolher ser o que é (medíocre?). Não sei se é uma questão de semântica. Não há mediocridade se alguém é feliz com sua atitude. A mediocridade é o olhar do que confere, do que compara, julga. Eu nunca mais consegui ficar sem comparar. O medíocre é o que se distancia de nosso critérios.
Fiquei tentando lembrar de algumas pessoas do tipo bege, mas satisfeitas. Conheço algumas pessoas que estão conformes consigo , pelo menos aparentemente e notei que não são exicionistas. Não passam batom e ficam falando na frente do espelho. Provavelmente achem isto um despautério. São beges, comuns, transparentes. E daí?
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