terça-feira, 29 de junho de 2010

O mundo animal.

A música emprestou um pouco de poesia e a vida , pulsando por todos os lados (quase latejando), deu início a minha cruzada pela vida desta manhã.
Ontem quando acordei e abri a área de ventilação do meu quarto a primeira coisa que vi foi um bicho cabeludo, este mesmo, aquele intocável. Estava lá sozinho andando sobre o concreto morto entre algumas folhas secas caídas de alguma árvore alienígena.
Tenho por princípio jamais matar qualquer bicho, exceto se for eu ou ele. Uma barata, por exemplo, sem chances de negociação!
Muito bem , lá estava nossa jovem criatura e nem tão bela, aliás, sim , muito bela.
Quando ela andava suas cerdas degradé se moviam como uma dança do ventre. Enfim, era linda e pelo tamanho deduzi que a jovem caiu de seu barraco por acidente.
Imaginei que algum bichão pai viesse resgatá-la e portanto deixei pra lá. Bem longe de mim e do Stuart, é verdade, um território restrito, mas todo dela.
Ela ficou lá matutando e andando de um lado para outro, procurando um jeito de voltar para casa e eu fui embora.
Hoje os pássaros lá felizes, o Sol cheio de si e a pobre bichinha continuava andando. Devia estar exausta andando daquele jeito, solitária.
Fiquei imaginando porque a natureza cria animais assim tão exóticos, que não podem ser tocados porque queimam. Tem pessoas que também são um pouco assim.
Resolvi iniciar uma operação de salvamento. Deduzi pelos meus conhecimentos da vida selvagem que , se ela voltasse para o galho de onde se atirou( ou caiu) reencontraria seus pares e seguiria seu destino, deixando minha consciência em paz.
Luvas, escada e uma pá me pareceram ser as ferramentas adequadas para a operação(além de uma certa coragem).
Quando empurrei a bichana felpuda para a pá com uma folha ela automaticamente se enroscou toda. Ficou apavorada e fingiu-se de morta. Pensei que seria melhor para nós duas se ela continuasse imóvel e deduzi que nosso medo era recíproco. Uma questão de respeito mútuo. Mas não me teste.
Subi até o último degrau e estiquei meu braço segurando a pá com a pequena cabeluda imóvel e fiquei esperando até que ela se dignasse a caminhar até o galho.
Meu braço já estava adormecendo(uma eternidade) quando a criatura resolveu se mover e cheguei a ficar emocionada. O encontro de dois mundos. Ela entendeu minhas intenções.
Quase em lágrimas dei adeus ao vespídeo enquanto se deslocava para seu galho e cumpria seu destino.
Mas, a lei de Murphy está aí para ser experimentada e quando pensei que todos seriam felizes para sempre a dita cuja suicida se atirou de volta nos braços da mamãe. Acho que ela se apegou.
Não preciso dizer que dei um salto para trás e nem lembrei que estava no último degrau da escada, não esperei um gesto de agradecimento da pobre.
Sim eu sobrevivi e nem cheguei a me estatelar no chão, mas o problema do resgate da maranduvá continuava insolúvel.
Ela tinha cerdas anti-impacto e nada sofreu com a queda. Ufa!
Decidi usar o planoB. Coloquei a Mendy (como passei a chamá-la dado o clima de quase proximidade) novamente na pá e subi decidida os degraus. Sem olhar para trás lancei a Mendy para o outro lado do muro onde provavelmente há um "jardim" de bichos cabeludos e voltei para minha leitura me sentindo Indiana Jones.
A parte do provavelmente é a minha assinatura do episódio, talvez porque eu nunca olhe atrás do muro para ver o que acontece. Prefiro ficar supondo que "tudo ficará bem". Ou, melhor nem ver..
Hum! Um tanto patológico!
O Stuart não participou da missão porque não se relaciona muito bem com outras ordens e, agindo de forma passional, poderia colocar toda a operação pelo muro abaixo.
Bem, a Mendy se foi para continuar devorando suas plantinhas e queimando outras paradas por aí...
Não, eu não acho que a Mendy seja só uma praga que queima pessoas. Fico aterrorizada quando lembro das experiências que fazíamos com sapos quando eu era criança. Tínhamos uma turma durante o veraneio que contava com a liderança de meu primo sadodestrutivo que operava as maiores atrocidades. Por mais que eu fosse coadjuvante, fui uma cúmplice .
Cruela sim, mas por sorte estes tempos já vão muito longe ....
beijo zoofóbico
O'Mahley

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Pelo que me toca..

Pelo que me toca estou aqui,
entregue a meu sonho
que sem jeito me ponho
tão banal e distraída,

bem dentro me estranho
e de aperto me arranho,
de tão abstraída sufoco e
no cordão das letras
me evoco me discuto
sem métrica, nem rima,
no avesso do verso
que se procura porque
na palavra tem a cura,

tem o texto que é tergiverso
que é puro, uma mistura
e nenhum verbo assegura
pelo que me toca,

pelo que me invade ,
pelo que transbordo ou
pelo que só abandono e
esqueço pelo espaço
sem destino ou inscrição,

porque não me toco
mesmo de tudo isso
e fico por aí entre aspas
a esmo, como citação
isolada, ao acaso mencionada
pelo que me diz respeito,

deixa assim sem forma e sem jeito
porque nem de longe me agrada
entender o meu sujeito vago
irresoluto ou imperfeito.