sábado, 25 de dezembro de 2010

Perdidos no Espaço


Muitas vezes uma aspirada nos pélos do Stuart pode virar uma viagem ao espaço, ou melhor dizendo um episódio de "Perdidos no Espaço". Se eu tivesse que escolher qual personagem seria eu escolheria o Will, fiel companheiro de desventuras do Dr. Smith.
Meu aspirador de pó é a minha lata de sardinhas enferrujada que fica andando pela casa atrás de mim gritando "perigo" "perigo" enquanto persigo o Stuart que tem pânico do meu robô ( de brinquedo infelizmente). Ele desliza pela casa preso preso pelo elo de força, digo, pela mangueira sanfonada que ontem não resistiu à "brincadeira" e se rompeu, como tudo que é moderno e sujeito ao mal da obsolescência programada. Rompeu-se o elo de segurança e ficamos literalmente perdidos no espaço.
Ando assim, avulsa, perdida no espaço e experimentando a sensação de não pertencer a nenhum "club" ou apresentar qualquer credencial de identificação que me vincule.
Ontem era véspera de natal, tradição que não tem apresentado qualquer lógica para mim nos (muito muito) últimos anos. Me sinto um estojo de maquiagem falsificado dizendo palavras de ordem que não passam pelo crivo da minha verdade.
Não , não é um momento de complexo niilista profundo, talvez seja meu momento "Natureza Selvagem".
Não precisei me embrenhar pelas cabanas isoladas pelo inverno polar e nem romper com o mundo externo,mas fiquei perdida no espaço, deixei que os vínculos se rompessem como a mangueira sanfonada do aspirador de pó, esticou até onde pode, mas não resistiu à fragilidade do "material" e nem ao impacto dos puxões da minha vacuidade. Rompeu-se o elo e a experiência não foi propriamente boa, apenas uma experiência.
Fiquei ali desejando que o telefone não tocasse para que eu não tivesse que mentir para fazer algum sentido aos " de boa" . Ainda assim tive que dar algumas explicações constrangidas a respeito do meu comportamento.
Na última crônica do Contardo Caligaris ele defende o natal( espírito de  Noel) sob o argumento (entre outros) de que é um momento no qual acreditamos que o mundo nos quer bem. Os sorrisos se esbanjam e as generosidades  se põe a mostra. Os telefones tocam e os velhos amigos se reencontram para renovar votos . Pode ser!
Fiquei ouvindo um entusiasmado que gritava "feliz natal" pela janela do edifìcio ao lado. Dava para sentir a alegria e empolgação do sujeito turbinado com certeza por algumas taças de espumante. 
Mas o fato é que 2010 foi um ano de rasgar convicções e experimentar a sensação de estar na pele de Will e Smith, "perdidos no espaço" e tentando construir sentidos sobre o vácuo.Ou encontrando deus na cabana? Ou encontrando Melinda Bauer na Cabana? Brincadeirinha.
Encerrei o Natal com um Scott on the rocks duplo brindado com minha última tia de 83 anos, a única pessoa que senti vontade de ver. Fiquei lá observando o despojamento conferido pelo tempo a uma mulher. Bebericamos e falamos à toa. Voltei para casa e fiz uma sessão prolongada de cinema com direito a piquenique, com o Stuart , é claro. 
Feliz Natal
beijo lindo
da Lind@

ops...Natureza Selvagem é um superfilme que recomendo com ***** para quem ainda não assistiu. É uma longa viagem.
ops.: O Stuart é o meu Watson  de quatro patas.
Guigui
O cheiro do plástico adocicado com as cores radiantes do desejo está gravado nas papilas da alma do meu Peter Pan. Ele se nega a esquecer.Os olhos azuis se movem enquanto movimento os braços da minha boneca que ri . Ela me olha bem dentro e pressente nossa história. Traz um sorriso perpétuo diante da vida e solta uma risada inesquecível que ecoa pelo tempo. É natal em 1971 na rua Conde de Porto Alegre. As crianças correm pelo corredor entre os vasos de plantas e fazem tremer a varandinha que precede a mesa da ceia de Natal.  O pinheiro dourado está presente mais uma vez com suas bolas coloridas a nos refletir redondos ao lado do tio travestido de Papai Noel . Uma pequena estrela brilha anunciando o melhor natal de uma criança enquanto o Bob e o Biluca latem desesperados no quintal da casa da matriarca uruguaia Martina Estivalez, nascida em Melo para iluminar  o olhar de uma certa pequena que encantou pra sempre. Se despediu naquele natal com gosto de rabanadas...

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