domingo, 5 de dezembro de 2010

Eu e minha boneca ....

No conto" Vasalisa" da psicóloga junguiana e contadora de histórias Clarissa Pinkola Estés do livro " Mulheres que  correm com os Lobos", uma mãe no leito de morte chama a filhinha e lhe dá de presente uma boneca. A mãe diz a filha que sempre que precisar de ajuda deve perguntar à boneca o que fazer, que nunca deve contar a ninguém sobre a boneca e jamais afastar-se dela. A mãe morre e a menina segue as orientações da mãe. Sempre que se encontrava em apuros a boneca indicava-lhe o caminho e dizia-lhe como agir.
A escritora nos fala sobre nossos instintos femininos adormecidos, nossas intuições e complexidades esquecidas ou sufocadas pelas distorções geradas por este modêlo sócio cultural no qual estamos enterradas até o pescoço. Mas vez por outra encontramos nossa mulher selvagem, como se uma passagem se abrisse e nos encontrássemos com os arquétipos que habitam nossa psique e nos socorrem prontamente de nossas angústias.
Nos últimos tempos eu tenho experimentado inúmeras experiências e muitas delas não muito agradáveis. Tenho que enfrentar sozinha tarefas às quais desconhecia e encontrar soluções adultas e razoáveis para equações novas e cujas fórmulas ignoro.
Já enfrentei um rato , encanamento entupido, medo, insegurança, válvula hidra enguiçada, colapso econômico, coração partido, limpeza e organização doméstica, entraves juridicos-administrativos e tudo que diz respeito à trabalhosa gestão da própria vida( neste modelo social escolhido). Aprendi a fazer minhas próprias unhas, depilação e tintura de cabelos. Aproveito recursos e preparo meu próprio layout todos os dias.  Enfim fiz um aprendizado rápido sobre operacionalidade ou otimização dos ingredientes dos quais disponho.
Cuidar de si mesmo é muito trabalhoso, mas tenho encontrado sempre com minha mulher selvagem. Não me separo de minha "boneca".
Ontem tive a clara percepção do quanto nós mulheres somos dotadas destas intuições e de como nossa boneca nos orienta pelos caminhos precisamente adequados.
Em um dia desalentador resolvi ( e nem visualizo como) um rol de problemas.
Só para exemplificar eu saí de casa com a expressão que gosto de mentalizar "animus resolvendi". Inventei esta chave para colocar no meu foco quando preciso ser ágil.
Depois de uma noite mal dormida de ansiedades geradas pela urgência na resolução de certas questões fui ao encontro das pendengas.
A primeira seria encontrar um modelito para um evento ( sem muitos gastos é claro). Já havia percorrido vários lugares aqui de Bigrivertown e não havia ouvido o sim do meu ego. Um certo momento ouvi o nome do lugar e shazan...resolvido. Segui o dedo na agenda e fui tentar encontrar um pintor faz tudo ( na praia onde tudo é um assalto)  para arrumar uma casa que estava em petição de miséria . Em segundos encontrei um vizinho de praia que estava desfilando na minha frente. Chamei , perguntei  e ele apontou o dedo para um garoto de óculos fundos que trabalhava em uma obra (praia em Dezembro é um campo de obras). Chamou o garoto e apresentou o serviço . Levei o Pablo ao local , mostrei o que precisava ser feito. Ele chutou o preço nas alturas e negociei até onde eu poderia ir. Fechou.
O serralheiro que estava me enrolando há dois meses começou a trocar as grades das janelas e o inquilino que estava na casa  fazia a faxina geral. Para encerrar, minha boneca pisou no freio segundos antes que eu entrasse em cheio  na porta de um carro que estava manobrando atrás de mim. Fiquei perplexa tentando entender como. Parei e fui saborear um Mccolosso com aquela calda de chocolate.
Usei estes pequenos episódios  para ilustrar minha mulher selvagem e o quanto os pensamentos e idéias que colocamos na mente são fundamentais para nos salvar dos dissabores e frustrações.
Alguns gostam de chamar de sorte, mas eu acredito que somos dotados de energias que precisamos aprender a conduzir e canalizar para nossos objetivos.
Mais uma vez tenho que concordar com aqueles que crêem que os obstáculos são nossos grandes mestres. É com eles que aprendemos a lançar mão de nossos "eus" e fazer o inventário de nossas forças aliadas. Sou também uma mulher de muita sorte.
Descobri também a energia da palavra escrita, aquela que , como diria outra Clarice (Lispector), é uma busca humilde por um modo de falar que me leve mais depressa ao entendimento.
Esta experiência me deixa simplesmente feliz.

beijo da inseparável boneca
Linda