sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Fascinação

Parece mentira, mas como dizia um cara chamado Daudi " a vida quanto mais vazia, mais pesa". Digo isto porque quando estamos no período entre-tormentas sobra espaço para prestar mais atenção no que acontece a nossa volta . É natural que nos situemos mais e alguns detalhes fiquem a mostra.
Ontem eu e uma amiga de longa estrada fomos ao centro comprar umas coisinhas e enquanto andávamos pelo calçadão minha amiga virou e falou " como o mundo mudou né" , continuou " tudo mudou tanto"." Tu te lembras como tudo era antes? " Claro que lembro, respondi. " Tu achas bom?"
Esbarrei na pergunta. Pensei um segundo e larguei no impulso : acho.
O fato é que eu gostava do mundo como era, mas gosto dele agora. Sinto imensa saudade de certos ingredientes que temperavam a vida antes, mas é estranho, a vida é impermanente. Gosto de todos estes ingredientes no tempo deles. A sensação desta percepção me assombrou até.
Eu percebi que as histórias do passado pertencem ao passado. Não é incrível a nossa capacidade de transitar pelo tempo.
Eu gosto muito de mim como estou , de minha vida e tudo que me cerca como está. Não que não tenha saudades e não adore beber os cheiros do baú de histórias que me integram, mas todas as coisas que passaram só cabem no passado e no momento que existiram.
Percebi o quanto somos dotados de capacidade de adaptação. Aliás a adaptação é uma lei natural da existência. Animais, genes e demais espécies se adaptam . Nosso corpo se adapta e nosso cérebro se adapta.
A ciência afirma até que nossa sensação de eternidade é um atributo de um kit anti-enlouquecimento. Imaginar que nunca acabaremos é uma forma de sedar nossas angústias e nos dar tempo para sorver cada gota do jeito certo.
Sim, eu também tenho uma tese de que o jeito certo é o jeito que é ou o jeito que está. Talvez seja prático, mas eu penso que tudo acontece como deve acontecer, com um pouco de caos é claro, pra não faltar adrenalina.
Outro dia me vi em um vídeo e fiquei perplexa. Era outra pessoa, talvez alguém que não me fosse muito familiar. Era eu em um outro tempo ou momento de mim. Hoje tenho mais intimidade comigo.
E o sentimento que fica de toda esta experiência de viajar no tempo é o deslumbramento. Acho a vida deslumbrante do jeito que é. Fico encantada quando as luzes acendem o palco.

Fico aqui com uma frase do Aristóteles que me fascina "o legal é sair de cena como se sai de uma festa, nem sedento e nem bebido..."

beijo lindo
da Linda

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